sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Como esquecer um grande amor!


Livre-se de uma grande encrenca!

Você foi deixado. Levou um pé-na-bunda assim, sem mais nem menos, de uma hora para outra. Justo no momento em que achava "agora vai". Você nunca se sentiu tão feliz ao lado daquela pessoa; era capaz de buscar água na peneira para ele (ou ela), comprar a lua ou as estrelas, mesmo que isso implicasse um financiamento a perder de vista com juros de 7% ao mês. E eis que você dorme ouvindo um cintilante "eu te amo" e acorda com um "não dá mais".

Pobre criatura. Seja bem-vindo ao time dos enjeitados. Se serve de consolo, o primeiro fora é o pior. Depois, você acaba aprendendo a cair, a se levantar, sacudir a poeira e ir dançar mais um frevo. Mas até lá, vai ser dose. Você vai chorar todas as suas pitangas, vai falar dele (ou dela) em todas as rodas e no dia-a-dia para quem se aproximar de você, seja o padeiro da esquina ou o guarda de trânsito ― que veio te multar porque você não pára de chorar ao volante, não vê que o sinal abriu e fechou pelo menos umas três vezes e está atravancando toda uma fila de carros que buzinam lá atrás, sem contar que quase atropelou a velhinha com os dois poodles, pouco antes.

O pé-na-bunda de um abduzido é a coisa mais triste que pode haver em termos de relacionamentos amorosos. Triste porque ao longo da abdução o sujeito jogou o amor-próprio no lixo, submetendo-se às vontades do outro mais do que deveria. E agora, vai ter que voltar à lata de lixo, revirá-la até encontrar seu velho e puído amor-próprio novamente.

O abduzido não é um amante maduro. É aquele que quando dá por si, deixou de ouvir o rock de que tanto gostava, de ver os filmes cult ou os jogos de futebol, de vestir-se como sempre vestiu só porque Fifonho (ou Bodoquinha) não gosta. É aquele cara que se vê, certo dia, assistindo ao Domingo Legal no sofá da namorada (ou do namorado), com tios, primos e o papagaio do cônjuge, depois de um almoço-família, cujo menu inclui a famosa geléia de mocotó da matriarca e o frango na cerveja da tia gorducha de pele oleosa.

O abduzido geralmente é feliz em sua santa ignorância e acha que as reclamações de parentes e amigos quanto ao seu sumiço não passam de implicâncias com sua "alma-gêmea". Ele não consegue ir até o ponto de ônibus sem a ciência dela. Viajar com a turma, encontrar os amigos numa festa ou bar sem a presença dessa figura vigilante e onipresente, então, nem pensar. Ainda assim, o sorriso abestalhado que o abduzido estampa na cara não se desfaz nem mesmo quando Fifonho (ou Bodoquinha) o xinga ou o repreende em frente aos outros. Para se ter noção da dimensão do problema: ele chega a achar que flores de plástico são lindas.

Inevitavelmente, chega o dia em que o cônjuge se cansa de tanta servidão, de tanta falta de personalidade. Convenhamos, um capacho não inspira muita admiração. Nesse dia, então, você recebe sua carta de alforria. E ela vem assim, com um gosto amaríssimo, junto com uma bofetada e um ponta-pé. Você fica arrasado, achando que não poderia ter te acontecido coisa pior e acha que será impossível viver sem os maus-tratos a que estava tão acostumado. Mas, vai por mim, depois que a tempestade passar, você vai perceber que foi a melhor coisa que te aconteceu na vida e que se livrou de uma enorme encrenca.

Claro, bem antes disso, você vai olhar para o alto e pensar: "30 andares... deve ser o suficiente". Então, vai subir no alto do Edifício Acaiaca, em Belo Horizonte (ou no Mirante do Vale, em São Paulo; ou ainda no Rio Sul Center, no Rio). Vai encenar essa novela mexicana durante um bom tempo até se tocar que não tem coragem para tirar a própria vida. Mesmo assim, ainda não se convencerá de que era ruim com Fifonho (ou Bodoquinha), melhor sem ele (ou ela).

Os amigos vão tentar te distrair e te chamar para a balada. Mas sua fossa será tamanha que vai afugentar quem chegar perto e, ô meu Deus, até mesmo os amigos vão ter que se revezar para te aturar. Que seja, amigo é prá isso.

Você ainda vai procurar seu ex-amor uma dezena de vezes, ensaiando uma reconciliação ou negociar um tempo, quem sabe... Não, você ainda não entendeu que quanto mais se arrasta, menos há chance de volta. E que, bobeando, o fato de não ter volta seja uma sorte maior do que ganhar a Mega-Sena acumulada por três vezes seguidas.

Depois de um mês sem fazer a barba (ou sem se depilar), você recebe um e-mail de consolo daquela amiga (ou amigo) que não via há anos. Um e-mail simples e curto, mas tão terno que faz você entender que o que recebia da ex (ou do ex) estava mais próximo do tapa do que do afago.

A garçonete do bar, ou o peão da obra da frente, dá uma piscadela e você pensa que não está tão mal assim. Aí você reage. Decide virar a página. Em menos de uma semana, já deu um trato no visual, se inscreveu num monte de curso que vivia dizendo que queria fazer ― inclusive o de gaita de fole, aquele instrumento desengonçado que Fifonho (ou Bodoquinha) sempre achou brega ―, encontra os amigos e resolve distribuir seu amor para a humanidade no carnaval de Diamantina.

Quando finalmente você se sente curado, o maldito Fifonho (ou a Bodoquinha) reaparece como que por milagre. Pensou melhor e percebeu que não pode viver sem você. E o que você faz?

Pára tudo!Este é um momento decisivo, é o clímax de toda a sua curva dramática.

Já disse um sábio chinês que errar uma vez é humano, duas é burrice. Como o próprio termo diz, ex é ex. Já era. Passado, capicce? Toda maneira de amor vale a pena mas, em se tratando de relacionamentos amorosos, uma lei é universal: a da evolução das espécies. É o famoso "a fila anda". Sobretudo se você acaba de sair de uma abdução.

Suas pernas ainda tremem ao encontrar a figura, você sabe que se deixar, acaba tendo uma, duas, todas as recaídas do mundo. A carne é fraca? Então, ponha a mente para funcionar:

1º passo: Corra, Lola! Run, Forrest!

Evite o encontro ao máximo e vá procurar a sua turma. Vá viver! Vocês não têm mais nada para tratar (a não ser que tenham feito filhos no meio do caminho, aí a história é outra). O negócio é fazer as malas assim que sentir a aproximação do ponta-pé e sair correndo sem olhar prá trás. Lá na frente você vai começar a diminuir a toada, apreciar a paisagem, conhecer gente nova e interessante, assuntos instigantes e nem vai se lembrar de onde veio. Lembra o curso de gaita de fole? Pois é, aquilo lá rendeu um contato com a companhia de sapateado escocês Lord of the Dance e, veja só, aquela bailarina ruiva de cabelo cacheado tá te dando mole desde o primeiro ensaio. Fifonho? Bodoquinha? Quem?

2º passo: Ex não é amigo.

Ok, vocês foram o melhor amigo um do outro quando eram namorados. E nada impede que se falem amigavelmente vez por outra. Mas não vá achar que devem combinar saídas e encontros como se nada demais tivesse acontecido. Aconteceu. A casa caiu! E se você foi mesmo abduzido, uma amizade nefasta como aquela não acrescentará nada para a sua evolução pessoal. Deixe os encontros a encargo do destino: atravessando o sinal no meio da rua, xingando no trânsito, essas coisas...

3º passo: Deixe de ser masoquista!

Guardar e ler a cada dois dias as cartas, os e-mails, ver as fotos, ficar remoendo todas as lembranças, manter aquela quantidade de bibelô ou bichinho de pelúcia que só servem para acumular poeira e mágoa... Nada disso vai aplacar a falta que você está sentindo. Pelo contrário, isso só prolonga ainda mais o sofrimento e te faz perder um preciosíssimo tempo produtivo. Jogue tudo fora. Queime essa tralha toda, doe, jogue no rio, faça o que quiser, mas limpe o ambiente.

4º passo: Provocar ciúme pra quê?

Você saiu daquele relacionamento se sentindo a lasca da unha encravada do soldado raso da Primeira Guerra Mundial. Nada mais compreensível que agora queira "dar o troco", mostrar que está bem, que deu a volta por cima. O problema é quando quer mostrar que está melhor que o outro. Você começa a se render a subterfúgios na internet, por meio de amigos para fazer o ex (ou a ex) saber que você agora é secretário pessoal do Bill Gates ou que está "pegando" uma das (ou um dos) modelos do São Paulo Fashion Week. Se você comprar um boneco vudu numa loja de macumba, dá na mesma. Você acaba dedicando horas do seu precioso tempo nessa atividade estéril de continuar roendo o mesmo osso. Não percebe que se continuar na sua pode encontrar um prato de filé mignon mais à frente.

5º passo: Produza!

Quer esquecer alguém? Lembre-se de você mesmo e trabalhe! Trabalhe como nunca trabalhou antes na sua vida. 8, 9, 10, 15 horas por dia. Quando cansar, vá para a academia ou vá pedalar um pouco. Gaste energia numa caminhada. Nos fins-de-semana, divirta-se até desopilar o fígado. Vá ao cinema sozinho. Finalmente você não se sentirá obrigado a assistir aqueles filmes idiotas de ação ou aquelas baranguices românticas. A pipoca renderá mais e, de quebra, você se instrui com filmes edificantes.

6º passo: Não se iluda.

Tudo bem, você terá freqüentes arroubos de carência. Mas não vá achar que sair à caça em bares vai aplacar essa sua falta e te por diante da sua alma-gêmea, a quem você finalmente poderá confiar toda a sua existência e o seu amor. Pode "pegar" dez ou doze numa única noite. A cara-metade que lhe é destinada não estará nessa lista. Quando acordar, aquela ressaca moral e o vazio vão te dar um esfuziante "bom dia". E isso se repetirá ad infinitum, até você entender e aceitar que ninguém aparece na vida do outro para "salvá-lo".

Quando você finalmente aprender a cuidar de si mesmo e se virar, vai acabar topando com outra pessoa em igual condição e então contribuirá para a teoria darwiniana da evolução das espécies. Se não achar que é capaz de tal proeza, ao menos tenha certeza de que Fifonho ou Bodoquinha nunca mais terão assento no seu sofá. Como diria Armstrong (o cara da lua, não o trompetista, por Deus!), isso seria um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade.

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